Os Dez Mandamentos, Cecil B. DeMille, 1956
O olho de DeMille é o da perspectiva
artificialis herdada do Renascimento e Barroco. É um olho que traz a carga de uma tradição cultural transportada para o cinema. Para o melhor e para o pior, a América foi a terra onde a
real thing foi mais valorizada ( Umberto Eco). Reina a ideia de que pode dar-se a ver os pormenores do passado como nunca ninguém viu, mostrar o
more real than reality... . No melhor dos casos, tal concepção mostrou-nos coisas que nunca poderíamos ver e algumas delas estão mesmo no cinema. No pior dos casos, somos presenteados com a maior das traquitanas
kitsch em forma de cópia fiel e absoluta, e vendida como sendo mais realista do que a própria realidade, o que também não deixa de ser extraordinário . The
real thing, onde «cowboys convivem com faráos e as deusas gregas com gangsters.» A América apresenta-se como a terra onde o iconismo absoluto vingou e se apresentou como uma realidade muito mais do que a outra. É a terra do simulacro e simulação. O cinema de Hollywood reflectiu isto e, deste ponto de vista, o cinema de DeMille foi uma extraordinária máquina de reproduzir e representar o passado (a partir de uma efectiva e comprovada consulta de fontes que o realizador nunca se cansou de sublinhar...) e foi ao encontro de pulsões essenciais no modo único dos norte-americanos verem o mundo...
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